A obra de arte deita raízes profundas na realidade - natural, psíquica e histórica. Sabe-se que na gênese de uma obra de arte se dá um ato de percepção ou de memória de um momento vital para a consciência de um artista.
Para a formalização verbal ou gráfica desse ato concorrem sensações e imagens, afetos e idéias, movimentos internos que se formam em correlação estreita com o mundo sentido, figurado e pensado. A arte está para o real assim como o real está para a idéia. O conceito de mimese abre caminho para a idéia de arte como percepção análoga a certos perfis da experiência (BOSI, 1999). Conhecer quem mimetiza, como, onde e quando é inerente ao discurso sobre o realismo na arte. Até o século XVII, a estética discutia o belo como perfeição, o objeto artístico era contemplado como ocorrência única no sentido de uma imitação perfeita.
Ao artesão, assim como ao artista, também cabia a função da concepção e execução de objetos únicos (CARDOSO, 2004), com suas mãos hábeis imprimia seu estilo próprio na confecção de peças exclusivas. A partir do século XVIII, o modo de proceder industrial, pelo qual a lógica de acumulação de capital passa a ser exercida pela produção industrial, tornou anacrônicos os conceitos de arte vigentes, já que não se pressupunha o uso da máquina na composição artística. O novo modo de organizar a relação produção/consumo alterou conceitos, valores e comportamentos tradicionais, estabelecendo polêmicas (BIGAL, 2001). As transformações ocorridas também transformaram o objeto, pela implicação de novas relações entre a finalidade conceitual e os processos de realização prática.
Com a Revolução Industrial, surgiram muitas novas indústrias que aplicavam processos mecanizados à produção. Os objetos passaram a ser produzidos em larga escala, com novos materiais, utilizando novas técnicas, e a decoração e ornamentação dos objetos, que até então eram vistos como sinal de perícia e virtuosismo dos artesãos, passaram a ser produzidos em série. O uso indiscriminado de ornamentos, numa tentativa de acrescentar valor a produtos simples, acaba por criar um abismo entre estilo e função (HESKETT, 1998), bem como, a facilidade de reprodução mecânica passa a possibilitar a produção de imitações perfeitas, pela falta de intervenção do elemento artesanal, gerando problemas para a indústria (CARDOSO, 2004).
Assim, em virtude de sua origem e função, o desenho de produtos industriais surge sob a ocorrência de muitas polêmicas em que estiveram envolvidas as noções de arte e técnica. Essas polêmicas atravessam o período contemporâneo, e do elenco de proposições mais recentes, destacam-se duas em especial: o caráter utilitário da técnica e o caráter não utilitário da arte (BIGAL, 2001). Historicamente, porém, a passagem de um tipo de fabricação, em que o mesmo indivíduo concebe e executa o artefato, para outro, em que existe uma separação nítida entre projetar e fabricar constitui um dos marcos fundamentais para a caracterização do design (CARDOSO, 2004).
No Congresso realizado pelo International Council of Societies of Industrial Design (ICSID), em 1973, o design foi definido como uma atividade no extenso campo da inovação tecnológica. Uma disciplina envolvida nos processos de desenvolvimento de produtos, ligada às questões de uso, função, produção, mercado, utilidade e qualidade formal ou estética de produtos industriais, com a ressalva de que a definição de design se daria de acordo com o contexto específico de cada nação (BRASIL, 1997).
No Brasil, no Projeto de Lei nº 3.515, de 1989, apresentado pelo deputado Maurílio Ferreira Lima, constava que a profissão de designer é caracterizada pelo desempenho de atividades especializadas de caráter técnico-científico, criativo e artístico, visando à concepção e ao desenvolvimento de projetos e mensagens visuais. Em design, projeto é o meio em que o profissional, equacionando de forma sistêmica, dados de natureza ergonômica, ecnológica,econômica, social, cultural e estética, responde concreta e racionalmente às atividades humanas. Os projetos elaborados por designers são aptos à seriação ou industrialização e estabelecem relação com o ser humano, no aspecto de uso ou de percepção, de modo que atendam a necessidades materiais e de informação visual.
Fonte do texto: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512007000400008